- Entre 1985 e 2023, mais de 88 milhões de hectares de floresta amazônica foram destruídos. No total, 92,4 milhões de hectares de vegetação natural (florestal e não florestal) foram substituídos por atividades econômicas nos últimos 39 anos. Essas áreas registraram um aumento alarmante no uso do solo para mineração (1.063%), agricultura (598%) e pecuária (298%).
- Diante das próximas cúpulas da COP16 e COP30, é urgente implementar políticas que fortaleçam o papel protetor dos Territórios Indígenas e Unidades de Conservação para conter o desmatamento.
Equador, 26 de setembro de 2024 – A Amazônia, esse grande ecossistema vital para a humanidade e o planeta, enfrenta um dos seus momentos mais críticos. Nos últimos 39 anos (entre 1985 e 2023) os países amazônicos perderam mais de 88 milhões de hectares de florestas. Essa área é quase do tamanho da Colômbia e equivale a uma perda de 12,5% de sua cobertura florestal. Os dados estão sendo lançados hoje (26/09) pelo MapBiomas Amazônia, iniciativa da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG). Diante desse cenário, nunca foi tão urgente fortalecer as políticas de conservação e restauração, bem como o papel protetor desempenhado pelos Territórios Indígenas e Unidades de Conservação no combate ao desmatamento.
Especialistas da RAISG alertam que a região amazônica está sofrendo uma transformação acelerada. A partir da classificação de imagens de satélite nas áreas onde a floresta diminuiu entre 1985 e 2023, foi possível constatar que a mineração legal e ilegal expandiu-se em 1.063%; a agricultura, em 598%; e a pastagem em 298%. Assim, muitos ecossistemas desapareceram para dar lugar a enormes extensões de pastagens, lavouras de soja, palma e outros monocultivos, ou se transformaram em grandes crateras para a extração de ouro. No caso da mineração, a erosão do solo não só impacta a cobertura florestal, mas também o solo fértil, o que compromete sua capacidade de recuperação e aumenta o risco de deslizamentos, além de todos os contaminantes. Já as florestas inundáveis foram reduzidas em 4,5 milhões de hectares nos últimos 39 anos (5,4% de sua extensão em 1985). Seu retrocesso coloca em sério risco a abundância e diversidade biológica da Amazônia — especialmente de peixes — e, portanto, a disponibilidade de alimentos para as populações locais.
Um panorama regional alarmante
A análise inclui os oito biomas da Região Amazônica. Quase três quartos (71%) das perdas totais de florestas na Amazônia ocorreram no bioma Amazônia, o maior de toda a região, presente nos nove países (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). Quase um quarto (23%) ocorreu na savana tropical do Cerrado (Brasil); 4% na floresta seca tropical Chiquitano (Bolívia); e 2% foram divididos entre os biomas da floresta seca do Chaco (Bolívia), o Pantanal (Brasil), o Tucumano-boliviano, assim como nos Andes (Colombia, Ecuador, Perú y Bolivia) e Vales da Bolívia.
A RAISG considera 847 milhões de hectares (8.470.209 km²) de território da Amazônia, correspondentes à soma das maiores extensões territoriais considerando os três critérios: biogeográfico, bacia hidrográfica e limites político-administrativos, de acordo com as particularidades de cada país amazônico. Dessa maneira, os dados apurados aplicam-se a uma região delimitada por: i) limites biogeográficos da Amazônia na Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; ii) os limites da bacia amazônica no Equador, Peru e Bolívia e iii) a soma dos limites da bacia (Amazonas e Tocantins-Araguaia) e os limites administrativos da Amazônia Legal no Brasil. Essa área inclui as bacias hidrográficas dos rios Amazonas, Tocantins-Araguaia e Marajó (692,6 milhões de hectares).
O papel crucial dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas
Às vésperas da COP16 de Biodiversidade na Colômbia (outubro de 2024) e com vistas à COP30 sobre Mudanças Climáticas no Brasil (novembro de 2025), a RAISG considera esses dois anos cruciais para que os líderes dos governos e entidades de impacto implementem políticas de conservação e restauração mais rigorosas, a partir desses focos de perda. “Os principais desafios são conservar as áreas intactas e de baixa degradação, antes de alcançar o chamado ‘ponto de não retorno’ da Amazônia; e substituir as atuais atividades por outras que impactem menos a floresta. E, o mais importante: proteger as Áreas Naturais Protegidas e Territórios Indígenas, que atuam como barreiras contra o desmatamento e a degradação”, afirma Karen Huertas, especialista do MapBiomas Amazônia.
O papel fundamental que ambos os espaços desempenham na conservação da biodiversidade é comprovado por números: apenas 6,5% das formações naturais perdidas na Amazônia ocorreram em Territórios Indígenas e Áreas Naturais Protegidas (6,2 milhões de hectares dos 92,6 milhões de hectares). Enquanto os 93,5% restantes (86,5 milhões de hectares) ocorreram fora desses espaços. Durante milênios, os povos originários têm sido os melhores guardiões da floresta, graças a seus conhecimentos e práticas ancestrais, que permitem consumir recursos de maneira sustentável e dar aos solos os descansos necessários para sua regeneração. Da mesma forma, nas ANPs, prioriza-se a estabilidade da floresta e protegem-se os serviços que a Amazônia oferece à humanidade: fornecimento de oxigênio, água para consumo, alimentos, biodiversidade e remédios tradicionais.
Apesar de sua contribuição inestimável na luta contra a mudança climática, os povos indígenas vivem sob constante ameaça. Entre 1985 e 2023, seus territórios perderam 3,8 milhões de hectares de florestas. O avanço de áreas agropecuárias, garimpo de ouro, extração ilegal de madeira e cultivos para o narcotráfico são algumas das pressões sobre estes territórios. Essa situação coloca em risco a segurança das comunidades locais e a vida dos líderes ambientais, além de comprometer a diversidade cultural dos países. No mesmo período, as ANPs perderam mais de 2,6 milhões de hectares, principalmente em suas bordas, devido à invasão de atividades agropecuárias.
Se essa tendência continuar, em poucos anos a Amazônia caminhará para um processo irreversível de savanização e conversão em pastagens. A perda de florestas continuará liberando grandes quantidades de CO2, acelerando ainda mais o aquecimento global e reduzindo o habitat de milhares de espécies. Durante muitos anos, os governos deram as costas às comunidades indígenas, tradicionais e locais, que souberam conservar as florestas melhor do que outros grupos humanos. Agora é o momento de mudar essa realidade para frear a devastação da Amazônia, fortalecendo seus direitos territoriais, sua participação ativa nas decisões e sua valiosa herança cultural.
“Os governos dos países amazônicos devem agir de forma coordenada para conter o avanço das pressões e ameaças, como o desmatamento, a mineração e o narcotráfico, avançar em alternativas econômicas sustentáveis e promover a restauração ambiental em escala regional. A Declaração de Belém e a XIV Reunião de Ministros das Relações Exteriores da OTCA determinaram importantes caminhos para a cooperação regional, como a Rede Amazônica de Autoridades Florestais e a Rede Amazônica de Manejo Integrado do Fogo, que devem ser implementados com a participação ativa dos povos indígenas e comunidades afrodescendentes e tradicionais”, concluiu Angélica García, secretária-executiva da RAISG.
Evento MapBiomas Amazônia
Para mais informações sobre a situação atual da Amazônia e as ações necessárias para protegê-la, a RAISG está organizando o evento “Por uma visão integral da Amazônia: 39 anos de perdas de florestas e propostas de conservação”, no qual serão discutidos os resultados do relatório e as possíveis soluções.
Data: quinta-feira: 26 de setembro de 2024
Horário: 15h00 (Equador, Colômbia e Peru), 16h00 (Venezuela e Bolívia) e 17h00 (Brasil)
Virtual: Youtube RAISG
Presencial: Hotel Dann Carlton, Avenida República de El Salvador, Quito – Equador
Inscreva-se aqui: https://forms.gle/cXxeS6Db4ts8iNm76
Sobre a RAISG
A RAISG é a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada, um consórcio de organizações da sociedade civil dos países amazônicos focado na sustentabilidade socioambiental da Amazônia, com apoio da cooperação internacional. A RAISG gera e difunde conhecimentos, dados estatísticos e informações socioambientais geoespaciais sobre a Amazônia, elaborados com protocolos comunitários para todos os países da região; facilita a visualização da Amazônia como um todo, assim como das ameaças e pressões que pesam sobre ela. A RAISG é resultado da cooperação de oito organizações da sociedade civil que atuam em seis países amazônicos: Bolívia (FAN), Brasil (Imazon, ISA), Colômbia (Gaia), Equador (EcoCiencia), Peru (IBC) e Venezuela (Wataniba, Provita).
https://www.raisg.org/
Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa. Além disso, a rede MapBiomas ampliou-se para outros 13 países, como também gera outros produtos como MapBiomas Alerta, MapBiomas Fogo, MapBiomas Água e MapBiomas Solo.
http://mapbiomas.org/
PARA MAIS INFORMAÇÕES À IMPRENSA: +55 71 8192-8334